Volta e meia, a pergunta volta a aparecer: "Qual é a melhor cerveja?
Como se com meu paladar e conhecimento cervejeiros, fosse possível dar uma resposta única e final para a questão. Na verdade, a resposta pode ser longa, mas normalmente é respondida com um simples 'depende', que deixa quem me questiona um tanto quanto desapontado. Isso porque diferentes motivos podem levar uma pessoa a apontar uma determinada cerveja como a melhor de todas. Isso vai desde o gosto da bebida até as chamadas memórias afetivas, ou seja, a melhor cerveja pode estar relacionada à memória de um ótimo momento da vida, em que uma cerveja estava lá, junto do prazer e da felicidade, compondo uma atmosfera, sem ser o principal elemento.
Foto: Arquivo Pessoal
Visita do bar da Cervejaria Bell's de Comstock, em Kalamazoo, nos Estados Unidos
Uma coisa é certa, cerveja ruim é aquela que apresenta defeitos, no aroma, no sabor, ou na apresentação. Com o passar do tempo passamos a ser críticos e desenvolvemos habilidades que ajudam na percepção. Logo não gostar de uma cerveja, não necessariamente significa que ela é ruim, apenas que ela não agradou ao paladar, às preferencias pessoais, mas pode ser muito bem produzida e sem 'off-flavors' (que são os defeitos).
Uma das cervejas prediletas do colunista é a Two Hearted Ale, uma American IPA produzida pela Cervejaria Bell's de Comstock, em Michigan, Estados Unidos
Há um bom exemplo de cerveja boa e que gosto. É a Two Hearted Ale, uma American IPA produzida pela Cervejaria Bell's de Comstock, em Michigan, Estados Unidos. Ela tem sido eleita há dois anos, 2017 e 2018, como a melhor cerveja dos Estados Unidos por uma publicação especializada. Na recente viagem à Craft Brewers Conference, estive no bar da fábrica, em Kalamazoo Michigan, e tive a oportunidade de prová-la diretamente destas torneiras, cuja experiência tentarei transcrever em palavras (se é que isso é possível).
Trata-se de uma American IPA perfeitamente balanceada, onde a presença do lúpulo é muito acentuada, como esperado. Ela conta com aromas florais e frutados, de cor alaranjada, com espuma cremosa, muito refrescante e fácil de beber. Consegue ser ao mesmo tempo marcante, sem ter nada que destoe do conjunto. Com dulçor apropriado e sem retrogosto amargo. A American IPA perfeita? Talvez.
A receita é espetacular? Sim sem dúvida.
Este é o segredo? Certo que não. Mas o que faz ela diferente e melhor? Os detalhes!
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Um produto deste nível de qualidade certamente é diferenciado pelos detalhes, como por usar exclusivamente lúpulo Centennial, colhido no noroeste dos Estados Unidos, próximo ao oceano pacífico, com o máximo frescor possível. Muitos cuidados de fabricação e as mais avançadas técnicas para evitar oxidação e acúmulo de elementos que degradariam este tipo de produto, como os taninos.
Antes de querer rotular uma cerveja como boa ou ruim, o importante é experimentar, diferentes cervejas, diferentes estilos, e procurar associar o aroma e sabor a experiências anteriores, ajudando a memória sensorial a se desenvolver, formando opinião e ajudando a definir o gosto pessoal e o que mais agrada. Aliás, se posso dar um conselho, antes de sair dizendo que uma cerveja é boa ou ruim, lembre-se do que acabei de contar e que os paladares e as memórias mudam de uma pessoa para a outra.
Este mês, participei do julgamento do concurso para cervejeiros caseiros Cervacentro. Trata-se de um Julgamento cego, com vários juízes avaliando as mesmas cervejas e seguindo à risca as regras do BJCP. Resultado? Ainda não sei, as amostras são apenas numeradas, os julgadores ficam sabendo somente quando os resultados são divulgados publicamente, o que posso adiantar é que os cervejeiros caseiros de Santa Maria e região estão produzindo ótimas cervejas, o que digo com orgulho. Fica o compromisso de, na próxima coluna, divulgar os vencedores.
Prost!